quinta-feira, 12 de março de 2009

O bezerro de ouro

Um dos episódios de difícil compreensão no livro de Êxodo é o do bezerro de ouro.
Teriam os judeus, após presenciarem as 10 pragas que assolaram seus opressores e a milagrosa salvação perante o exercito egípcio, sequioso de sangue, esquecido com tanta rapidez, que somente o Eterno poderia ter mudado seu destino que parecia fadado a um sofrimento sem fim?
Cada uma das pragas demonstrou a nulidade dos diversos deuses idolatrados pelos egípcios.
A coluna de fogo que os separou dos egípcios quando eles vieram perseguí-los no deserto, se desvaneceu após o tempo necessário para eles atravessarem o mar pisando em solo seco, entre paredes de mar solidificado, deixando então que o mar desabasse sobre seus opressores afogando-os.
Que outras demonstrações do poder do Eterno seriam necessárias para fortificá-los em sua crença?
E Arão? Que papel desempenhou neste episodio? Concordou brandamente com a solicitação de moldar ídolos, em expressa negação ao que fora ordenado no contexto dos 10 mandamentos?
Como se pode compreender todo este episódio?
Nossos comentaristas elaboraram varias explicações.
A idéia comum a quase todas elas é a de que tendo vivido durante muitos anos num ambiente idolatra, e sendo idolatras todos os povos daquela época, mesmo renunciando a esta pratica, pensavam os judeus que somente através da presença de Moises em seu meio, poderiam os milagres que presenciaram ter ocorrido.
E agora, Moises que (segundo o Midrash) prometera voltar de sua subida ao Monte Sinai após 40 dias e 40 noites, não retornara após decorrido este prazo.
Que lhe teria acontecido? Como sobreviveriam sem ele no deserto?
Não pretendia o povo que se fizesse um ídolo para substituir a seu Deus invisível, mas queriam algo que substituísse Moises em sua ausência.
O “erev rá” ( a multidão de pessoas, não judias, que resolveram seguir o povo judeu na sua saída do Egito), não pensou duas vezes antes de começar a exigir que se fizesse um ídolo segundo seu costume tradicional.
Tornaram-se cada vez mais exaltados e quando Hur (Moises havia deixado o povo sob a direção de Hur e Arão) se opôs drasticamente a atendê-los, não hesitaram em matá-lo.
Que fez então Arão?
Ele tinha completa fé em tudo que Moises falara e tinha certeza de que ele haveria de voltar. Mas quando? Era preciso ganhar tempo para que isto acontecesse.
Talvez Moises tivesse feito a contagem dos 40 dias não a partir do momento em que começara a ascensão, mas do dia seguinte...
Alguns entre os judeus, mais descrentes, já pareciam estar concordando com o “erev rá”, e era preciso a todo custo evitar que o povo do Eterno se deixasse envolver por esta demonstração de idolatria.
Resolveu então procurar ganhar tempo e decidiu que se alguém de entre os judeus tivesse que assumir alguma culpa que fosse apenas ele e não mais ninguém.
Há inclusive um Midrash que narra o seguinte:
Um príncipe, influenciado por más companhias, se dispôs a assassinar o Rei, seu pai, para assumir o trono e conduzir seu país da forma com que seus amigos achavam mais adequada.
Eis que corre até ele seu preceptor e implora: “Não pratique este crime. Se o rei precisa mesmo ser morto, eu o farei por você e que sobre mim recaia a pecha de assassino.”
Ouvindo o que se passava o rei resolveu premiar o preceptor pelo amor que demonstrava ter para com o príncipe e a este fez ver como eram falsos os amigos que o aconselhavam.
Da mesma forma, Arão pensou, se é preciso que se faça a vontade destes estranhos, antes que contamine a nosso povo, assumirei toda a culpa e moldarei uma estatua que simbolize a presença de um intermediário do Eterno em nosso meio.
Pediu que, para a confecção do ídolo que desejavam, lhe fossem trazidos os adornos usados pelas mulheres. Talvez elas se recusassem a entregá-las e conseqüentemente ele não teria a matéria prima necessária para moldá-lo.
Entretanto os homens exigiram as jóias de suas mulheres e filhas e assim as conseguiram.
A divindade mais conhecida no Egito era o “Boi Apis”. Arão moldou, não um boi, mas um filhote, isto é um bezerro, um bezerro de ouro, tentando, através disto, demonstrar que certamente um filhote não podia ter muito poder.
A proclamação do “erev rá” quando o bezerro ficou pronto – “este é vosso deus,ó Israel, o que vos tirou da escravidão do Egito !” mostra claramente que isto não foi dito por alguém de nosso povo, que se fizesse esta proclamação diria: “este é nosso deus”.
Feito o bezerro, propõe Arão: “Amanhã, faremos uma festividade a nosso Deus”. Não ao ídolo, mas a nosso Deus.
Deixando a festividade para o outro dia, haveria mais uma chance de Moises chegar a tempo de sanar todo o mal que se estava fazendo.
No dia seguinte, porem, a multidão dos estranhos, tratou de oferecer sacrifícios ao ídolo, proclamando-o como sendo a divindade, e dando continuidade a seus costume tradicionais iniciou uma celebração repleta de orgias.
Quando Moises, alertado pelo Eterno desce e se depara com o sacrilégio, quebra as Tabuas da Lei e para deixar absolutamente claro que um ídolo não é divino, o destrói, o reduz a pó, mistura-o com água e faz o povo ingerir esta beberagem, sabendo que ela vai constituir parte dos dejetos rejeitados pelo intestino – fim inglório para o que se pretendia apresentar como sendo divino.
Arão, mesmo ao ser repreendido por Moises, mantém sua humildade e não ousa se justificar explicando que raciocínios o levaram a agir de tal forma.
Alguns comentaristas explicam que na inauguração do santuário Arão oferece um sacrifício e este é aceito pelo Eterno , fazendo com que o fogo que viria acender a pira desça dos céus, para demonstrar a todos que ele está perdoado por sua ação.
Este episódio consta do trecho da Torá (“Ki Tissa”,) lida no Shabat 14 de Março.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Programação do segundo trimestre

Estamos elaborando a programação para o trimestre Abril/Maio/Junho, que em breve será divulgada.

PURIM

David Gorodovits

O Shabat que antecede Purim é chamado Shabat Zachor (Sábado da Recordação).Nele se lê um trecho do Deuteronômio onde está escrito:
“Recorda-te do que te fez Amalek, no caminho, quando saias do Egito; ele te encontrou e feriu a todos os enfraquecidos e enfermos que se retardavam, enquanto estavas sedento e fatigado, e Amalek , não temeu a Deus”
“Quando, pois, o Eterno teu Deus te conceder descanso de todos os teus inimigos, na terra que o Eterno teu Deus te está dando por herança, para possuí-la, apagarás a memória de Amalek de debaixo dos céus, não te esqueças”
Esta determinação se tem traduzido através da Historia, na participação dos judeus em todas as lutas que se fizeram contra a opressão. Apagar a memória de Amalek significa fazer com que no mundo não mais possam existir opressão e opressores.
Dentro desta linha de raciocínio, Purim é celebrado em 14 de Adar e comemora um episódio da história dos judeus na Pérsia, descrito na Meguilat Ester (Rolo de Ester)
Ela conta em detalhe como Haman (Ministro do rei) induziu o rei a emitir um decreto ordenando que em todas as províncias da Pérsia, fossem os judeus assassinados em 14 de Adar e como Ester conseguiu, orientada por seu tio Mordechai, fazer com que o rei emitisse outro decreto autorizando os judeus a defenderem suas vidas, destruindo a quem os quisesse destruir, transformando assim a possibilidade de extermínio numa vitória avassaladora.
Nossa tradição considera Haman, como descendente de Amalek, e a maneira simbólica pela qual se cumpre hoje a determinação, de apagar seu nome, é abafar com os mais variados ruídos, o som de seu nome, a cada vez que,ele ocorre durante a leitura da Meguilá.
A designação de Purim, dada a esta festa, deriva da palavra PUR eu significa sorteio, porque Haman através de um sorteio escolheu o mês e o dia que considerou mais favorável para a execução de seus desígnios malévolos.
Na época em que se passaram os acontecimentos narrados na Meguilá, cada um pensava: “Se eu não tenho suficientes méritos para merecer ser salvo pelo Eterno do período que nos acossa, talvez meus amigos os possuam”. E por isto lhes remetiam presentes como que agradecendo por serem salvos por seus méritos. Este continua a ser, de certa forma, o sentido de Sheloach Manot. (Remessa de presentes),sendo que é essencial que também se providencie presentes para os pobres da comunidade.
Aliás costuma-se aumentar nesta época o volume de doações para os necessitados.
É também mitzvá (mandamento) em Purim, fazer uma Seudá (refeição) festiva, que se deve iniciar antes do anoitecer do dia 14 de Adar.
Dos alimentos característicos de Purim, o mais conhecido é o “Oznei Haman” (Orelha de Haman) uma massa em forma de triangulo recheada com guloseimas, também chamada de “Hamentash” (Chapéu de Haman)
Nesta festividade abranda-se a restrição a beber quantidades de vinho maiores que as habituais.
Há um comentário do sábio Ravá que diz, inclusive, que se deve beber até não distinguir mais, entre Abençoado seja Mordechai e Amaldiçoado seja Haman.
Uma explicação para esta recomendação, não é a de que é permitido embebedar-se nesta ocasião, mas sim o que se segue:
A presença do Eterno na condução da história dos povos se percebe tanto pela Benção que Concede aos justos quanto pela maldição que faz cair sobre os malévolos.
Em Purim, relembrando, alem da salvação alcançada, nesta época, naqueles dias, tantas e tantas outras com que o Eterno nos brindou, nosso coração se enche de tanta alegria, que percebemos sua presença, não pela maldição aos malévolos, mas somente pelas bênçãos que Concede aos que trilham Seus caminhos.
Em algumas comunidades se costuma também encenar peças cômicas alusivas aos acontecimentos de Purim .Fantasias e mascaras são usadas pelas crianças e até mesmo por adultos, e se fazem concursos para escolha da Rainha Ester, seja a vitória atribuída pela roupa mais engraçada, pela mascara mais original, ou ainda, pela escolha de alguém a quem a comunidade quer homenagear.
Que não tarde a chegar o dia, em que toda a opressão venha a cessar e as tiranias sejam, para sempre, banidas da terra.
Então não mais haverá razão para que os homens se odeiem, e, em autentica fraternidade, os seres humanos se amarão, uns aos outros, servindo assim, da melhor forma, ao Eterno, o Criador da Vida, do Amor e da Paz.